10 de jul. de 2009

"As pessoas precisam se enxergar como são", diz Costanza Pascolato em entrevista ao site Terra

A consultora de moda e empresária Costanza Pascolato lançou seu livro Confidencial - Segredos de Moda, Estilo e Bem-Viver. É claro que ela fala das peças essenciais no guarda-roupa, dá conselhos para sair bem na foto etc...

A consultora de moda e empresária Costanza Pascolato lançou nesta segunda-feira, dia 6, o livro Confidencial - Segredos de Moda, Estilo e Bem-Viver (Editora Jaboticaba, 240 páginas, R$45), que vai além das dicas sobre os assuntos abordados no título.

É claro que ela fala das peças essenciais no guarda-roupa, dá conselhos para sair bem na foto, para se maquiar e se comportar. Mas não é só. Em primeira pessoa e com histórias saborosas, a obra traz pinceladas autobiográficas, confissões, experiências de vida e revela segredos da própria autora, como a única vez que saiu de pijama de casa para impedir o corte de uma árvore bem em frente. Ou quando começou a trabalhar na editora Abril como produtora de moda, nos anos 1970, com seu Fusca laranja, de porta-malas amarrado com uma corda, depois de bater na traseira de outro, porque estava se maquiando ao dirigir.

Costanza, italiana de nascimento e referência fashion no Brasil, fala da importância de se cuidar, de olhar para si mesmo, de se dar importância, apesar das adversidades que a vida pode trazer. Mostra isso com sua própria experiência, revelando as doenças que teve, a superação e as fragilidades. "Eu tenho medo de cirurgia plástica", conta, ao lembrar que na única vez que se submeteu a uma cirurgia, teve uma complicação com meningite e nunca mais quis saber de outra.

Nunca passou pela sua cabeça esconder a idade - ela completa 70 anos dia 19 de setembro. "Sempre achei que se falasse que tinha menos, iam achar que estava gasta demais para a idade." Costanza falou com exclusividade ao Terra, por celular, entre a volta de uma viagem ao Rio de Janeiro, a ida ao cabeleireiro, o retorno para casa e no meio de vários outros compromissos profissionais. Falou dos principais erros da mulher brasileira ao se vestir e disse que o preto não é mais fundamental na moda. "Eu fiz a escolha pelo preto, porque não tenho mais que abrir concessões, mas hoje a moda pede mais cores, mais combinações", afirma. Confira o bate-papo:


Terra - Por que você resolveu escrever o livro, que traz dicas para viver, se vestir e se comportar bem, além de dar algumas pinceladas autobiográficas?
Costanza Pascolato - Eu não tinha muita vontade de escrever outro livro (é autora de Essencial , lançado em 1999), mas minhas filhas e meus amigos me incentivaram, exatamente porque eu sempre fui superando problemas e tirando lições deles, como os vários de saúde que tive: depressão profunda, câncer de mama; doença de Graves, que atinge a órbita ocular e deixa o olho com aparência de sapo entre outros. É por causa desse problema que uso óculos escuros constantemente. Foi uma necessidade, e adorei o fato, porque assim ninguém vê muito como está minha aparência. Mas é meu derradeiro livro. Não quero escrever mais nenhum. Fica como um legado, uma ajudinha da minha experiência para os outros. Se eu soubesse de algumas coisas antes eu teria encontrado alguns atalhos para a superação desses problemas.

Terra - Você não esconde nada, nem doenças nem idade. O que acha das mulheres que não revelam nunca a idade?
Costanza - Trata-se de uma escolha, uma opção pessoal. Nunca tive coragem de esconder minha idade e sempre achei que falar que tinha menos era pior, porque podiam achar que eu estava gasta demais para aquela idade (risos). Minhas amigas que não revelam a idade brigam comigo por isso, começaram principalmente depois dos 50, porque se somos amigas é porque temos a mesma faixa etária. Mas eu acho o seguinte, ou a gente não fala de jeito nenhum ou fala a verdade. Mentir a idade, nunca.

Terra - Dê algumas dicas para as pessoas mais velhas se sentirem bem com a idade que têm.
Costanza - Para mim, a primeira coisa é cuidar da saúde com os recursos que existem atualmente. Fazer consultas periódicas no médico, tratar da cabeça, respirar melhor. Sou fã das medicações atuais. E não deixar a preguiça tomar conta. Sou preguiçosa, mas fico toda feliz quando faço meus exercícios. Eu posso dar dica, mas também nem sempre faço tudo que deveria fazer. Por exemplo, cuidar da pele. Passo meus cremes, mas esqueço de repassar o filtro solar toda vez que lavo as mãos. Isso é errado, porque já tirei mais de 50 carcinomas da pele. De qualquer forma, não dá para se acomodar. A gente tem de estar presente na vida da gente sempre, em todas as épocas. E isso eu sempre fiz.

Terra - Como é sua rotina?
Costanza - Acordo entre as 6h e às 6h30 todos os dias. E demoro duas horas para me arrumar. Tiro este tempo para mim. Medito, tomo banho, café, faço fisioterapia, musculação, pilates. Às 10h, estou pronta para ir à fábrica (ela toma conta da tecelagem familiar Santaconstância, fundada pelos seus pais). Em geral, às 19h estou em casa. E aí relaxo, leio e vou me preparando para dormir, por volta da meia-noite. Eu não saio muito. Se a gente não respeita muito o cansaço, com a idade, a recuperação é mais lenta. Posso até me submeter a uma rotina forte por algum período, mas depois levo dias para me recuperar. Nas semanas de moda brasileira, já não vejo tudo, acompanho uns 85% dos desfiles.

Terra - E o que acha sobre quem faz plásticas em demasia e fica com a cara toda esticada?
Costanza - Isso é mais sério do que se pensa. Tem gente que faz de forma correta, sem exagero, na hora certa e fica com a cara descansada e bem feitinha, de forma discreta. Mas há os problemas sérios, como li agora a entrevista de um médico sobre Michael Jackson, que não aceitava a imagem dele como realmente era. Essas pessoas se imaginam de outro jeito. No livro, falo para as pessoas, além de se olharem no espelho, tirarem fotos e mais fotos de si mesmo para se enxergarem como realmente são e não como pensam (ela fez apenas uma cirurgia plástica aos 44 anos e teve complicações porque adquiriu meningite; depois nunca mais teve coragem de submeter a outra).

Terra - Dá para falar que brasileira tem estilo?
Costanza - Olha, conheço muitos países, sou europeia (ela nasceu em Siena, Itália, em 1939 e veio ao Brasil em 1945) e posso dizer que a mulher brasileira é uma das mais bem cuidadas e higiênicas do planeta, até mais que as americanas. Mesmo as mais simplinhas vão ao cabeleireiro, fazem a mão. Além disso, devido à nossa cultura, têm muita feminilidade e facilidade de se expor na praia com um maiô maravilhoso. Grifes como a Victoria Secret´s, por exemplo, mostram peças em que está escrito "brazilian bikini". Nossas lingeries também são bem-vistas no mercado externo. Agora em relação a estilo de roupas, aqui se usa muita malha, decote e peças sem mangas. Isso mostra que nossa moda não está bem preparada para peças estruturadas, que requeiram um trabalho sério de quem sabe cortar e costurar.

Terra - Qual o maior erro da brasileira ao se vestir?
Costanza - No Brasil, a maioria das mulheres gosta de grudar a roupa no corpo. A história do cós baixo e calça justa, deixando o pneu a mostra, por exemplo, já está disseminada, mas é feio e traz problema até de saúde. Na região, há nervos, tendões, gorduras. Uma roupa apertada assim vai moldando o corpo de forma errada. Li uma reportagem sobre um brechó de luxo que só vende roupa vintage (peças antigas de marca) e como são roupas em que não se deve mexer porque foram feitas por criadores, a dona queria vendê-las como estavam. Mas precisou contratar especialistas em restauração de roupas preciosas para mexer na cintura. As peças dos anos 1950 e 1960 não entravam na cintura das mulheres atuais. Foi preciso alargá-las. Ou seja, a roupa molda a silhueta das gerações.

Terra - Na sua opinião, qual o maior falta de educação no comportamento das pessoas?
Costanza - Tenho observado muita falta de educação no trânsito, desde motoristas de carros luxuosos até de caminhões. E também dos pedestres. Não respeitam as regras, não dão passagem etc. Os pedestres, por sua vez, têm uma atitude desafiante em relação aos carros, parece um ressentimento social, e também não olham por onde andam. Há uma falta de educação, que começa em casa, passa pela escola e por aí vai. No geral, é preciso se cuidar para não invadir o espaço dos outros, falar alto demais, passar na frente nas filas e não olhar nos olhos do outro quando o cumprimenta.

Terra - Os brasileiros se baseiam muito nas novelas para se vestir. Isso é um erro?
Costanza - É bom ter um modelo, uma musa que acha bacana para se inspirar nela. O problema é que as atrizes são copiadíssimas, literalmente. A gente pode ter uma influência, como estilo da pessoa, mas não deve copiar totalmente. Li uma reportagem sobre a apresentadora da MTV dos Estados Unidos Alexa Chung, que diz ter como influência de estilo personalidades como Patti Smith, Jane Birkin e Françoise Hardy, que gostam de usar peças masculinas. Mas Alexa pega algumas roupas de homem, como uma camisa, e usa com uma saia de brocado; ou um jeans boyfriend (do namorado, meio folgado), com uma camiseta de paetês. Ou seja, ela tem seus ícones apenas como inspiração. Faz uma interpretação de acordo com seu estilo. O que quero dizer é que a pessoa não deve tentar se tornar aquela celebridade. Se isso acontece, deixam de se ver para enxergar outra pessoa. Aí compra a mesma roupa da atriz, colocam e ficam decepcionadas, porque o corpo não é igual.

Terra - O preto ainda é mesmo fundamental na moda?
Costanza - Para a moda, não. Para mim é, porque fiz uma escolha. É uma cor ideal para quem é tímida e prática. Eu uso o preto total e não acho que tenho de fazer concessões a essa altura. Mas a moda pede mais cores, mais combinações. Precisa ser uma escolha da pessoa.

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